O amor é um sentimento multifocal. É, segundo a psicologia, uma
confluência de paixão, intimidade e união. Está ligado a numerosas
emoções e influencia os comportamentos. O amor, ele próprio, combina-se
com sentimentos de fundo como a excitação, o bem-estar, o entusiasmo e a
harmonia.
O amor influencia também o estado do nosso Eu (nas suas dimensões
espiritual, psíquica e física) e pode contribuir para o enriquecimento
da auto-estima. O que quer dizer que, na ausência do sentimento do amor,
ou na sua falta de correspondência, o nosso psiquismo pode falhar,
sofrer rupturas e provocar sentimentos de frustação, desânimo, tristeza e
depressão.
O ser humano está predisposto geneticamente para amar e ser amado porque
é um animal profundamente social, envolvido em múltiplas redes de
relações (familiares, comunitárias, laborais, etc.). Os sentimentos têm
servido ao Homem para o influenciar na sua percepção de si e do mundo e
levá-lo a agir no e sobre o mundo. O amor, em particular, é um
estimulante poderoso (motivador) da acção. Já a falta de amor conduz à
inacção.

O desenvolvimento da capacidade de amar depende de factores históricos,
culturais e familiares. O amor, hoje, é diferente de épocas passadas.
Por exemplo, no período do Romantismo (final do século XVIII e grande
parte do século XIX) o amor estava associado à paixão - um sentimento
intenso, contemplativo e subversivo. Ele era sentido como emancipador
mesmo que trágico como na história de Romeu e Julieta.
Actualmente, o amor é mais dominado pela racionalidade. O amor já não
provoca escravidão como antes da época do Romantismo. O sofrimento é
mais limitado nas suas consequências e não amar para toda a vida já não
constitui um drama para a maioria das pessoas. O amor romântico, por
exemplo, ainda que procurado por muitas pessoas, não passa actualmente
de um mito. "
A paixão de hoje é mercadoria de consumo. Não mais a ver com o destino, com os riscos, com o enfrentamento" - escreveu Renato Ribeiro, professor titular de Ética e Filosofia Política.
As transformações sociais modificaram um pouco a forma como o amor é
percebido, sentido e gerido. O modo de amar depende muito das
aprendizagens sociais nos primeiros anos de vida. Num mundo em que
aumentam os divórcios entre casais os filhos ficam menos preparados para
relacionamentos amorosos duradouros.
Por outro lado, actualmente, ensina-se mais sobre as relações sexuais do
que sobre as relações amorosas. Os jovens sabem mais sobre sexo do que
sobre amor. E isto influencia o seu comportamento no mundo. É de prever
que no futuro os divórcios tendam a aumentar e a própria instituição do
casamento, tal como a conhecemos hoje, desapareça.
Os estilos de amar
Geralmente, as pessoas apresentam uma combinação de dois ou três estilos
de amor. Observa-se, porém, que há um estilo que tende a predominar nas
relação que estabelece com o parceiro.
O estilo romântico - é o mais cantado pelos poetas e actualmente é
muito mais feminino do que masculino. Envolve paixão, unidade, atracção
sexual. A pessoa que é capaz do amor romântico celebriza cada momento
vivido com o parceiro, faz desse sentimento um objectivo de vida. O amor
romântico, quando correspondido por uma pessoa do mesmo estilo, é
fortalecido pelas dificuldades que o casal tenha de viver para levar a
sua relação por diante. A vida familiar e profissional do amante
romântico é fortemente influenciada por um comportamento que traduz
contentamento e felicidade permanente. Aparece na adolescência e ainda
provoca casos de perdição. O fracasso de um amor romântico ainda pode
levar ao suicídio.
O estilo possessivo - é destabilizador sendo determinado pelo
ciúme. Desencadeia emoções extremas e comportamentos
obsessivo-compulsivos. É um amor que alterna entre momentos de prazer e
momentos de sofrimento. O medo da perda é, por vezes, dramático e
empurra a pessoa para situações doentias (perseguir o parceiro,
vasculhar-lhe a roupa e a correspondência, desconfiar de tudo aquilo
que, na sua imaginação, possa pôr em causa a relação. Exige do outro
constante atenção. A vida familiar e profissional pode ficar
profundamente prejudicada quando ocorrem momentos de crise (que são
frequentes no possessivo).
O estilo cooperativo - nasce geralmente de uma amizade anterior e
antiga. Sobrevive graças à confluência de hábitos e interesses comuns.
No centro deste estilo de amar conjugam-se a confiança e a segurança.
Está presente especialmente nas pessoas extrovertidas, sociáveis, com
uma grande rede de amigos e pessoas próximas. O sentimento de amor
cooperativo não nasce de paixões intempestivas mas aparece discretamente
a partir de uma relação mais íntima e cúmplice com um amigo, por vezes
dos tempos de infância.

O estilo pragmático - surge principalmente nas pessoas práticas,
disciplinadas e disciplinadoras, com uma educação, por vezes, austera. A
inteligência e a razão moldam esta forma de amar de forma que a relação
amorosa seja vantajosa, até mesmo em termos materiais. Geralmente a
pessoa estabelece relações sentimentais em função dos seus projectos de
vida pelo que apenas escolhe o parceiro em função dos seus interesses
centrais. A pessoa minimiza ou reprime o sentimento de amor não sendo dada a manifestações de carinho expressivas.
O estilo lúdico - é baseado na conquista e na busca de emoções
passageiras. A pessoa não se dedica inteiramente ao parceiro, diverte-se
com muitas outras coisas e até consegue relacionar-se amorosamente com
outros parceiros em simultâneo. O sexo constitui um aspecto central do
amor lúdico. As relações, além de passageiras, são superficiais e não
tem em linha de conta o envolvimento do outro, já que ele pode fazê-lo
sentir-se seu prisioneiro. Não mantem uma relação sistemática e evita o
casamento ou a vida em comum. É um estilo muito frequente em jovens
adultos, em especial homens.
O estilo altruista - a pessoa que segue o estilo altruista
dispõe-se a anular-se perante o outro. O outro é o centro de tudo. Está
pronta a subjugar-se aos desejos e vontades do parceiro. Tem baixa
auto-estima, é frágil, serve-se do outro para se sentir protegida. Está
disposta a tudo para não perder o parceiro, sacrificando os seus
projectos de vida, os seus sonhos e até a sua imagem exterior. Veste-se
ao sabor dos gostos do parceiro, faz tudo o que ele quer. Tende a
isolar-se num mundo onde, na sua imaginação, só cabem os dois ainda que o
outro pense e actue exactamente ao contrário.
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