*Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida! Respeito: passe adiante!
“Preocupe-se mais com sua consciência que com sua reputação. Porque sua consciência é o que você é. E sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam de você é problema deles.”
(Bob Marley)
Vitor Volejo
Assessor da Pastoral da Juventude
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segunda-feira, 24 de março de 2014
A Invisibilidade Humana
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Nós, os humanos "verdadeiros"
Precisei escutar o discurso do bem. O que dizem aqueles que acorrentaram um menino negro a um poste com uma trava de bicicleta no Flamengo, no Rio, em 31 de janeiro. Aqueles que cortaram sua orelha, aqueles que arrancaram suas roupas. O que dizem aqueles que defendem os jovens brancos que torturaram o jovem negro. Eu sei que os homens e as mulheres que evocam o direito de acorrentar adolescentes negros em postes, cortar a sua orelha e arrancar suas roupas porque se anunciam como homens e mulheres de bem – e homens e mulheres de bem podem fazer tudo isso – estão ao meu redor. Eu os encontro na padaria, os cumprimento no elevador, agradeço a eles quando me permitem atravessar na faixa de segurança. Eles estão lá ao ligar a TV. Mas o que eles dizem que é preciso escutar?
O discurso do bem cabe em poucas frases. O Estado é omisso. A polícia é desmoralizada. A Justiça é falha. Diante desses fatos, e todos os fatos são sempre inquestionáveis no discurso do bem, acorrentar jovens negros em postes com trava de bicicleta, cortar a sua orelha e arrancar suas roupas é um direito de legítima defesa dos cidadãos de bem. Se quiserem torturar o menino negro, como fizeram, eles podem, assegura o bem. Se quiserem matá-lo, eles podem, também. E alguns o fazem. Meninos negros não são meninos. Não é preciso investigação, não é preciso julgamento, não é preciso lei. Os cidadãos de bem sabem, porque são a lei. Também são a justiça. O menino é um marginalzinho, é também um vagabundo, diz o bem. E bandido bom é bandido morto, garante o bem. Se você não pensa assim, o bem tem um pedido a lhe fazer: faça um favor ao Brasil, adote um bandido. Simples, direto, objetivo. O discurso do bem orgulha-se de ser simples, orgulha-se de só ter certezas. A dúvida atrapalha o bem. E o bem não deve ser perturbado. E como duvidar que acorrentar um menino negro a um poste pelo pescoço, cortar a sua orelha e arrancar suas roupas é o bem?
Encontro uma explicação definitiva no discurso dos justiceiros amplificado nas redes sociais. Quem acorrenta um jovem negro a um poste, corta um pedaço da sua orelha e arranca suas roupas – e quem defende o direito de fazer tudo isso – são os “verdadeiros humanos”. E também os “humanos verdadeiros”.
Neste ponto, tenho uma dúvida. Talvez eu não seja uma humana verdadeira – ou uma verdadeira humana –, porque além dessa dúvida sobre a veracidade de minha humanidade, eu ainda tenho outra. O que os humanos verdadeiros – ou verdadeiros humanos – viram ao arrancar a roupa do menino negro? O que eles enxergaram ao se deparar com sua nudez? Será que foi por isso que arrancaram suas roupas, para provar que ele não era humano? O que aconteceu quando descobriram que seu corpo era igual ao deles? Ou não era? Será que foi nesse momento que cortaram a sua orelha, para marcá-lo como um humano falso, já que Deus ou a evolução não haviam providenciado essa diferença no corpo? Ou basta a cor, como já disse um pastor evangélico dedicado aos direitos humanos? Que perturbadora pode ter sido a nudez do menino, ao se tornar espelho dos justiceiros e os deixar nus, enquanto batiam nele com seus capacetes.
Quem estava nu nessa cena?
As dúvidas não fazem bem ao bem. Por associação eu concluo que há também os jornalistas falsos e os verdadeiros. Os falsos tenderiam a acreditar que, no jornalismo, uma opinião só pode ser dada com informação, pesquisa e investigação da realidade – ou não é uma opinião para o jornalismo, só um vômito de palavras. Os falsos pensariam que, para falar das ruas, seria preciso ir às ruas. Os falsos mostrariam que, quem mais morre por violência, no Brasil, são os jovens negros e pobres como aquele que foi acorrentado a um poste pelo pescoço. Mostrariam também que as maiores vítimas de violência de todos os tipos estão nas periferias e nas favelas – e não no centro, muito menos nos condomínios fechados. Os falsos se preocupariam em esmiuçar o contexto em que o fato foi produzido, explicar as raízes históricas que fazem com que as maiores vítimas de violência sejam os negros e os pobres, a começar pela abolição da escravatura que não se completou. Os falsos se esforçariam para revelar a complexidade de uma cena que remete à escravidão se repetir mais de 125 anos depois da Lei Áurea. Os falsos buscariam analisar como a violência é uma marca de identidade nacional, presente ao longo da constituição da sociedade brasileira – e que aquele que diz punir, de fato se vinga. Os falsos saberiam que uma imagem não desvenda tudo nem é toda a verdade. Os falsos suspeitariam que defender o linchamento, ainda que de humanos falsos, e abrir espaço para o incitamento ao linchamento em veículos de massa e na grande mídia poderia ser considerado uma irresponsabilidade que desqualifica o jornalismo e reduz a imprensa.
O que os justiceiros viram ao se deparar com a nudez do menino?
Divaguei. E divagações não fazem bem ao bem. A questão maior, a que abarca todas as outras, inclusive a dos jornalistas, é a dos verdadeiros humanos – ou dos humanos verdadeiros. Também conhecidos como cidadãos de bem.
Aqui, exatamente aqui, eu tenho outra dúvida. Essa me perturba mais. Percebo que, se estes são os humanos verdadeiros, os que acorrentam jovens negros a postes com travas de bicicleta, cortam a sua orelha e arrancam suas roupas – assim como os que defendem os cidadãos de bem que fazem tudo isso –, minha tendência é me alinhar aos humanos falsos.
O discurso do ódio serve para nos assegurarmos não só de nossa diferença, mas principalmente de nossa inocência
Mas seria fácil demais.
Difícil seria compreender não a diferença, mas a igualdade. Difícil não é me diferenciar, mas me igualar, perceber em que esquinas minha humanidade se encontra com a do menino negro preso ao poste e também com a humanidade dos jovens brancos que acorrentaram o jovem negro ao poste. Para isso, eu preciso perceber que aqueles que arrancaram as roupas do menino ficaram nus, sim, mas também me deixaram nua. Nos deixaram nus. Nós, que não compactuamos com quem acorrenta jovens negros em postes, somos aqueles que estavam na cena, mas não aparecem na imagem. E por isso podem se esconder melhor.
É para isso que também serve o discurso do bem. Ou o discurso do ódio, se preferirem. Para que possamos nos contrapor a ele e nos assegurarmos não só da nossa diferença, mas principalmente da nossa inocência. Para que possamos continuar vivendo na ilusão de que fazemos algo para que meninos negros não sejam acorrentados em postes pelo pescoço. Na ilusão de que fazemos algo para que meninos negros não se tornem, caso alcancem a vida adulta, homens e mulheres que ganham menos que os brancos, que têm menos educação que os brancos, que têm menos saúde que os brancos, que sejam a maioria nas casas sem saneamento. Na ilusão de que fazemos algo para que as mulheres negras não sejam as que mais morrem no parto nem seus filhos os que preenchem as estatísticas de mortalidade infantil. Na ilusão de que fazemos algo para que jovens negros não tenham a entrada banida em shoppings, exceto para trabalhar. O discurso do ódio também serve para que possamos nos contrapor a ele e manter intacta a ilusão de que fazemos algo para que jovens negros não sejam os que morrem mais e mais cedo.
Os justiceiros nos dão a chance de exaurirmos nossa omissão em ruidosa revolta e voltar esgotados de imagem para o sono dos justos
A maioria (79%), pelo menos no Rio de Janeiro, segundo pesquisa do Datafolha, é contra acorrentar jovens negros a postes. (O maior índice de aprovação aos justiceiros é encontrado entre os brancos, os mais ricos e os mais escolarizados, e este é um dado importante.) Mas o poste/tronco é apenas a imagem extrema, hiper-real, do que a maioria convive, dia após dia, sem perceber que deveria ser impossível conviver com o fato de que uma parte da população brasileira tem menos tudo, inclusive vida. A abolição incompleta da escravatura está em todas as horas do Brasil. Se não fosse mais conveniente ser cego, enxergaríamos jovens negros presos a postes pelo pescoço o tempo todo. O que a quadrilha de jovens brancos, de classe média, fez ao acorrentar o jovem negro a um poste foi uma interpretação literal da realidade cotidiana. Porque seu pensamento é simplista, direto, objetivo, escancararam o que se expressa no dia a dia de formas menos explícitas. O que os brutos realizaram, porque esse também é o papel dos brutos, é a materialização de uma realidade simbólica com a qual convivemos sem pruridos. Ao fazê-lo, os justiceiros nos dão, de novo, a chance de exaurirmos nossa omissão em ruidosa revolta, e voltar esgotados de imagem para o sono dos justos.
Os brutos não são a maioria, pelo menos nesse caso, pelo menos no Rio. A maioria é contra acorrentar jovens negros a postes, cortar sua orelha e arrancar suas roupas. Então, por que a abolição da escravatura ainda não se completou no Brasil? Porque nossa cumplicidade encontra caminhos para se convencer inocente.
Somos os “sonsos essenciais”. O termo é de Clarice Lispector, no melhor texto que li sobre a cena do menino negro acorrentado a um poste pelo pescoço. Com o detalhe que foi escrito na década de 60 do século passado. “Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa funcione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. Se eu não for sonsa, minha casa estremece. Eu devo ter esquecido que embaixo da casa está o terreno, o chão onde nova casa poderia ser erguida. Enquanto isso dormimos e falsamente nos salvamos. (...) E eu sei que não nos salvaremos enquanto nosso erro não nos for precioso. Meu erro é o meu espelho, onde vejo o que em silêncio eu fiz de um homem”.
Para fazer a diferença é necessário se diferenciar. Mas só se diferencia aquele que antes se iguala. Levanta os olhos e encara, no espelho que é o outro, a enormidade de sua nudez.
Matéria Relacionada:
Mineirinho - por Clarice Lispector
Por Eliane Brumquarta-feira, 2 de outubro de 2013
OS QUE FAZEM A DIFERENÇA!
Conta-se que após um feriado prolongado, o professor entrou na sala da Universidade para dar sua aula, mas os alunos estavam ansiosos para contar as novidades aos colegas e a excitação era geral. Depois de tentar, educadamente, por várias vezes, conseguir a atenção dos alunos para a aula, o professor perdeu a paciência e disse:
"Prestem atenção porque eu vou falar isso uma única vez". Um silencio carregado de culpa se instalou na sala e o professor continuou. "Desde que comecei a lecionar, e isso já faz muitos anos, descobrir que nós professores trabalhamos apenas 5% dos alunos de uma turma. Em todos esses observei que, de cada cem alunos apenas cinco fazem realmente alguma diferença no futuro. |Apenas cinco se tornam profissionais brilhantes e contribuem de forma significativa para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os outros 95% servem apenas para fazer volume; são medíocres e passam pela a vida sem deixar nada de útil.
O interessante é que esta porcentagem vale para todo o mundo. Se vocês prestarem atenção notarão que, de cem professores, apenas cinco são aqueles que fazem a diferença. De cem garçons, apenas cinco excelentes; de cem motoristas de táxi, apenas cinco são verdadeiros profissionais; de 100 conhecidos, quando muito, 5 são verdadeiros amigos, fraternos e de absoluta confiança. E podemos generalizar ainda mais: de cem pessoas, apenas cinco são verdadeiramente especiais.
É uma pena não termos como separar estes 5% do resto, pois se isso fosse possível eu deixaria apenas os especiais nesta sala e colocaria os demais para fora. Assim, então teria o silencio necessário para dar uma boa aula e dominaria tranquilo, sabendo ter invertido nos melhores. Mas, infelizmente não há como saber quais de vocês são estes alunos. Só o tempo é capaz de mostrar isso. Portanto, terei de me conformar e tentar dar uma aula para os alunos especiais, apesar da confusão que estará sendo feita pelo o resto.
Claro que cada um de vocês sempre pode escolher a qual grupo pertencerá. Obrigado pela atenção e vamos a aula de hoje". O silencio se instalou na sala e o nível de atenção foi total. Afinal nenhum dos alunos desejava fazer parte do "resto", e assim, do grupo daqueles que realmente fazem a diferença. Mas, como bem lembrou o sábio professor, só o tempo dirá a que grupo cada um pertencerá. Só a atuação diária de cada pessoa a classificará, de fato, num ou noutro grupo.
Pense nisso!
Se você deseja pertencer ao grupo dos que realmente fazem a diferença, procure ser especial em tudo que faz. Desde um simples bilhete que escreve, às coisas mais importantes, faça com excelência. Seja fazendo uma faxina, atendendo um cliente, cuidando de uma criança ou de um idoso, limpando um jardim ou fazendo uma cirurgia, seja especial. Para ser alguém que faz a diferença, não importa o que você faz, mas como faz. ou você faz tudo da melhor forma possível, ou fará parte do "resto"
Luther Martin King Jr |
Faça como como eles e deem sempre o seu melhor! Saiba que seu ato terá ação direta na vida das pessoas.
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Nota da CNBB sobre a redução da maioridade penal
POR: CNBB
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota sobre a redução da maioridade penal, na quinta-feira, 16 de maio, durante coletiva de imprensa, que apresentou o balanço da reunião do Conselho Episcopal Pastoral (CONESP). A CNBB “reafirma que a redução da maioridade não é a solução para o fim da violência”. Assim, a “Igreja no Brasil continua acreditando na capacidade de regeneração do adolescente quando favorecido em seus direitos básicos e pelas oportunidades de formação integral nos valores que dignificam o ser humano”.
“Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)
Nota da CNBB sobre a redução da maioridade penal
O debate sobre a redução da maioridade penal, colocado em evidência mais uma vez pela comoção provocada por crimes bárbaros cometidos por adolescentes, conclama-nos a uma profunda reflexão sobre nossa responsabilidade no combate à violência, na promoção da cultura da vida e da paz e no cuidado e proteção das novas gerações de nosso país.
A delinquência juvenil é, antes de tudo, um aviso de que o Estado, a Sociedade e a Família não têm cumprido adequadamente seu dever de assegurar, com absoluta prioridade, os direitos da criança e do adolescente, conforme estabelece o artigo 227 da Constituição Federal. Criminalizar o adolescente com penalidades no âmbito carcerário seria maquiar a verdadeira causa do problema, desviando a atenção com respostas simplórias, inconsequentes e desastrosas para a sociedade.
A campanha sistemática de vários meios de comunicação a favor da redução da maioridade penal violenta a imagem dos adolescentes esquecendo-se de que eles são também vítimas da realidade injusta em que vivem. Eles não são os principais responsáveis pelo aumento da violência que nos assusta a todos, especialmente pelos crimes de homicídio. De acordo com a ONG Conectas Direitos Humanos, a maioria dos adolescentes internados na Fundação Casa, em São Paulo, foi detida por roubo (44,1%) e tráfico de drogas (41,8%). Já o crime de latrocínio atinge 0,9% e o de homicídio, 0,6%. É, portanto, imoral querer induzir a sociedade a olhar para o adolescente como se fosse o principal responsável pela onda de violência no país.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ao contrário do que se propaga injustamente, é exigente com o adolescente em conflito com a lei e não compactua com a impunidade. Ele reconhece a responsabilização do adolescente autor de ato infracional, mas acredita na sua recuperação, por isso propõe a aplicação das medidas socioeducativas que valorizam a pessoa e lhe favoreçam condições de autossuperação para retornar a sua vida normal na sociedade. À sociedade cabe exigir do Estado não só a efetiva implementação das medidas socioeducativas, mas também o investimento para uma educação de qualidade, além de políticas públicas que eliminem as desigualdades sociais. Junta-se a isto a necessidade de se combater corajosamente a praga das drogas e da complexa estrutura que a sustenta, causadora de inúmeras situações que levam os adolescentes à violência.
Adotada em 42 países de 54 pesquisados pela UNICEF, a maioridade penal aos 18 anos “decorre das recomendações internacionais que sugerem a existência de um sistema de justiça especializado para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos” (UNICEF). Reduzi-la seria “ignorar o contexto da cláusula pétrea constitucional – Constituição Federal, art. 228 –, além de confrontar a Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente, as regras Mínimas de Beijing, as Diretrizes para Prevenção da Delinquência Juvenil, as Regras Mínimas para Proteção dos Menores Privados de Liberdade (Regras de Riad), o Pacto de San José da Costa Rica e o Estatuto da Criança e do Adolescente” (cf. Declaração da CNBB contra a redução da maioridade penal – 24.04.2009).
O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunido em Brasília, nos dias 14 a 16 de maio, reafirma que a redução da maioridade não é a solução para o fim da violência. Ela é a negação da Doutrina da Proteção Integral que fundamenta o tratamento jurídico dispensado às crianças e adolescentes pelo Direito Brasileiro. A Igreja no Brasil continua acreditando na capacidade de regeneração do adolescente quando favorecido em seus direitos básicos e pelas oportunidades de formação integral nos valores que dignificam o ser humano.
Não nos cansemos de combater a violência que é contrária ao Reino de Deus; ela “nunca está a serviço da humanidade, mas a desumaniza”, como nos recordava o papa Bento XVI (Angelus, 11 de março de 2012). Deus nos conceda a todos um coração materno que pulse com misericórdia e responsabilidade pela pessoa violentada em sua adolescência. Nossa Senhora Aparecida proteja nossos adolescentes e nos auxilie na defesa da família.
Brasília, 16 de maio de 2013
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Presidente da CNBB em exercício
Dom Sergio Arthur Braschi
Bispo de Ponta Grossa
Vice-Presidente da CNBB em exercício
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Presidente da CNBB em exercício
Dom Sergio Arthur Braschi
Bispo de Ponta Grossa
Vice-Presidente da CNBB em exercício
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
terça-feira, 14 de maio de 2013
10 razões porque sou contra a redução da maioridade penal!
1. Culpabilização do adolescente.
As estatísticas (1) demonstram que apenas 0,2% dos
adolescentes (entre 12 e 18 anos) estão cumprindo alguma medida sócio-educativa
no Brasil por terem cometido crimes. Isso prova que a criminalidade não é maior
nesta faixa etária, ou seja, não há um problema específico relacionado à
maioridade penal.
2. Desvio do foco das verdadeiras causas.
A discussão sobre maioridade penal desvia o foco das
verdadeiras causas do problema da violência, colocando a culpa no adolescente.
As pesquisas (2) realizadas nas áreas social e educacional apontam que no
Brasil a violência está profundamente ligada a questões como: desigualdade
social (diferente de pobreza!), exclusão social, impunidade (as leis existentes
não são cumpridas, independentemente de serem "leves" ou "pesadas"),
falhas na educação familiar e/ou escolar principalmente no que diz respeito à
chamada educação em valores ou comportamento ético, e, finalmente, certos
processos culturais exacerbados em nossa sociedade como individualismo,
consumismo e cultura do prazer.
3. Reações emocionais motivadas pelas "más
notícias" veiculadas pela mídia.
Em geral, quando tomamos conhecimento de histórias de crimes
bárbaros cometidos por jovens, temos naturalmente um sentimento de indignação,
que por sinal é muito justificado. Porém, quando tomamos contato com números
que mostram que apenas 2 em cada 1000 adolescentes se envolvem em crimes,
podemos relativizar esta indignação e não generalizá-la a todos os jovens, uma
vez que esses crimes bárbaros, apesar de serem chocantes, são casos isolados.
4. Crença de que as leis mais "pesadas" resolvem o
problema.
Muitas vezes imaginamos que leis mais rigorosas poderiam
combater a violência e melhorar a situação brasileira. Mas essa idéia
certamente é equivocada, uma vez que encontramos vários exemplos históricos e
atuais de regimes extremamente rígidos em diversos países, que ainda assim não
conseguiram reduzir ou resolver o problema da violência. Na verdade, não
precisamos de leis mais rígidas, mas sim de rigor e ética no cumprimento das
leis que já existem. Sem contar que no Brasil é muito comum haver injustiça e preconceito
na aplicação das leis. Pobres e negros lotam os presídios enquanto políticos
corruptos continuam no poder, abusando dos seus privilégios. Se as leis forem
mais rígidas, obviamente essa rigidez também afetará automaticamente o setor
excluído da sociedade e não as camadas dominantes. Sendo mais claro: da forma
como estamos, se um adolescente pobre cometer um crime certamente será preso,
mas dificilmente um filho da elite sofrerá a mesma punição.
5. Satanização da adolescência pela sociedade.
Quando queremos reduzir a maioridade penal parece que há um
discurso implícito que diz mais ou menos o seguinte aos adolescentes: "nós
desconfiamos de vocês... se não andarem na linha, nós vamos puní-los com
rigor!" Ou seja, passamos a cultivar um espírito de desconfiança, tratando
os adolescentes como se fossem nossos inimigos. No entanto, sabemos que a
adolescência é uma fase em que o ser humano é tomado por diversos conflitos e
um forte sentimento de insegurança, de maneira que nossa desconfiança pode ter
o poder de acentuar ainda mais as dores de um período por si só doloroso.
Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para
construção de uma sociedade melhor, e não como vilões que estão colocando a
nação em risco.
6. Crença de que os jovens terão medo da punição e cometerão
menos crimes.
Por que temos medo de receber uma punição como a prisão?
Certamente porque gostamos de viver a vida em liberdade, temos uma boa rede de
afetos (família e amigos), temos uma rotina que de alguma forma tem atividades
estimulantes, das quais não queremos abrir mão. Então, se um adolescente tiver
auto-estima baixa, pouca referência afetiva e uma vida muito difícil, será que
ele vai se importar com um punição mais rigorosa? Será que terá tanto medo
quanto nós temos, a ponto de deixar de fazer alguma coisa para não ser punido?
E não são justamente estes adolescentes que cometem crimes mais graves, os que
já não têm uma vida digna a prezar? Muitos já arriscam a própria vida todos os
dias convivendo com traficantes, chefes de quadrilhas e gangues, então, por que
então terão medo da lei? As punições só podem causar medo e impedir o crime
quando aprendemos a gostar de viver e sentimos a necessidade de lutar pela vida
que ganhamos e construímos. Até mesmo a morte não causará medo em pessoas que
não têm perspectiva.
7. Crença de que a prisão educa.
Reduzindo a maioridade penal, adolescente vão para a prisão.
E daí? Depois de tudo o que sabemos sobre as condições dos presídios
brasileiros, como ainda acreditamos que um adolescente poderá aprender alguma
coisa e se reeducar num sistema que não oferece nenhuma condição de educar
ninguém?
8. Crença de que a lei atual é "mole" e o ECA
enfatiza apenas os direitos.
Para quem pensa desta forma, o desafio é ler o Estatuto da Criança
e do Adolescente. Esta lei foi criada para proteger os menores de 18 anos de
comportamentos gravíssimos cometidos por adultos, como negligência,
espancamento e abuso sexual. Mas, ao mesmo tempo que protege, garantindo os
direitos, a lei também exige os deveres e prevê reparações de erro, trabalho
comunitário, tratamento e até mesmo privação de liberdade para o caso de jovens
em conflito com a lei. Assim, mais uma vez o problema não é a lei que é frouxa,
mas o fato das leis existentes não serem cumpridas ou serem cumpridas de
maneira inadequada. Muitos adolescentes que são privados da sua liberdade, por
exemplo, não ficam em instituições efetivamente preparadas para reeducar estes
jovens e acabam reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. Um ambiente
adequado para cumprimento de medidas sócio-educativas precisa contar com
profissionais preparados e recursos adequados para recuperar o ser humano.
9. Dificuldade de admitirmos a nossa parcela de
responsabilidade.
O ser humano, em geral, tem a tendência de olhar muito
facilmente a culpa do outro, o erro do outro, o mal que o outro causa, e uma
imensa dificuldade em olhar para si e enxergar a sua própria culpa, os seus
próprios equívocos, o seu próprio mal. É a velha e sábia história: olhamos para
o cisco no olho dos outros e não retiramos o cisco que se encontra em nossos
próprios olhos. Assim, defendendo a redução da maioridade penal corremos o
risco de olhar apenas para o adolescente e esquecer o nosso próprio egoísmo,
nossa falta de solidariedade, nossa indiferença social, nosso consumismo, nossa
ostentação... fatores que reforçam a desigualdade social e contribuem para
deixar os jovens mais desamparados e perdidos em termos de valores. Não podemos
simplesmente querer punir jovens que cometem crimes sem lembrar que dos
pequenos crimes de descaso que cometemos no dia-a-dia.
10. O ódio em alta.
O perdão e o amor em baixa. Este é o ponto mais difícil de
ser tratado porque mexe com áreas muito profundas do nosso ser. Certamente a
indignação causada pelas notícias de jovens que cometem crimes nos levam
facilmente ao ódio e o ódio nos leva a procurar uma forma de vingança,
despertando o desejo de dar uma punição extremamente rigorosa aos criminosos.
Quando pensamos do ponto de vista da vítima, imaginando o sofrimento pelo qual
passou e a dor que atingiu a família, é quase natural que esse ódio seja
reforçado. Porém, apesar de difícil, vale a pena o exercício de tentar pensar
no lado do criminoso. Um jovem que comete um crime bárbaro tem sua vida marcada
para sempre (sua consciência e o julgamento da sociedade são cruéis); uma vida
que poderia ter se tornado mais um brilho para dar luz ao mundo, foi apagada;
uma energia que poderia ajudar na transformação do mundo foi interrompida; uma
chama criativa que poderia contribuir para melhorar a raça humana, foi extinta,
talvez para sempre. Se pensarmos assim, talvez encontremos um espaço para a
compaixão e o perdão... porque a vida que fica talvez não sofra menos do que a
vida que se foi... Além disso, quando assistimos um jovem que se envereda pelos
caminhos tortuosos da criminalidade, de certa forma nos deparamos com nosso
próprio fracasso enquanto sociedade... fracasso por não termos conseguido
conduzir uma vida para sua realização plena e ética, enquanto ser humano.
(1)Fonte: Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança
e do Adolescente (SEDH).
(2)Sposito (2001), Zaluar & Leal (2001), Debarbieux
(2001).
sexta-feira, 3 de maio de 2013
A vida se tece de sonhos!
Sonhar é preciso!
Antes de Santos D´umont, Ícaro sonhou com as asas que lhe dessem a liberdade. Zumbi também sonhou com a liberdade de seu povo. Os Inconfidentes sonharam com uma liberdade maior, a de uma nação.
O sonho da liberdade sempre esteve presente no coração humano, mesmo quando ele se acomoda por longo tempo na submissão, lá no fundo da sua personalidade, existe uma chamazinha de insatisfação, que um dia cresce e se projeta na luta pela liberdade.
Grandes missionários que passaram pela Terra, sonharam com a fraternidade, o amor do próximo, a ausência da violência, da maldade e dos vícios físicos ou morais, que deprime o homem, e envergonha os que já tem algum progresso.
Jesus de Nazaré foi um desses homens que sonhou com um mundo melhor. Não sonhou apenas, mas deu a própria vida para alcançar a sua meta, o seu ideal. Entretanto, o seu sonho foi deturpado, e fizeram da sua doutrina de amor e perdão, instrumento opressivo, algemas a cercear a liberdade de consciência.
Vivemos momentos difíceis na Terra, onde os vícios campeiam à solta. A corrupção, as dependências às drogas, a prostituição, a desonestidade, o roubo, o assassinato são formas de escravização, a que muitos homens se submetem prazerosamente.
Ser honesto passa a ser sinônimo de tolo, e precisamos de forças, coragem e fé para não nos deixarmos contaminar pela corrupção moral.
Sonhamos com um mundo mais perfeito, mais justo e humano. Sonhamos com a liberdade do espírito, com a capacidade de amar, crescer, evoluir. Sonhamos com um mundo sem dores, sem fome, sem guerras, sem qualquer tipo de escravidão, inclusive a escravidão dos sentidos, da matéria, da sensualidade.
Construir esse mundo novo é tarefa gigantesca, para os fortes de espírito. A base é a educação, mas não apenas a instrução, a intelectualização, e sim a educação moral, formadora do caráter e dos bons hábitos.
O mundo precisa de bons exemplos. Não basta fazer discursos, é preciso vivenciar o que pregamos, e as vezes dar a própria vida pelos nossos ideais superiores.
A Doutrina Espírita pode desempenhar um grande papel nessas mudanças. O conhecimento das leis divinas, como imortalidade, reencarnação, causa e efeito, livre arbítrio pode levar à solidariedade, à fraternidade, não pelo medo, mas pela compreensão.
Por ora, esse mundo melhor é apenas um sonho, contudo não podemos desanimar, porque, como os indivíduos, os mundos também estão submetidos à lei do progresso, e a Terra subirá um degrau na escala evolutiva. Por tanto ja mais esqueça que "A VIDA SE TECE DE SONHOS"!
Escrito por Amílcar Del Chiaro Filho, postado por VITOR VOLEJO.
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