Silvânio: de defensor extremista a réu |
O argumento mais contundente para o pedido de afastamento de Silvânio foi o pagamento, pelo sindicato, de notas de produtos que não seriam de uso do próprio da entidade. Em uma das notas pagas aparece boneca, jogo de carta, jogo imobiliário e demais itens escolares.
A existência desta e de outras notas da mesma natureza e a sua quitação pelo sindicato foram mencionadas na decisão do juiz do trabalho, quando deferiu pelo afastamento de Silvânio do cargo pelo prazo de 90 dias. Consta na decisão do juiz: “considerando ser absolutamente inadmissível que os produtos referidos componham o rol de necessidades do sindicato, o requerido errou de uma forma ou de outra”. Contudo, esses produtos foram adquiridos em data anterior a posse de Silvânio.
O próprio presidente afastado faz sua defesa dizendo que as compras eram feitas pelos funcionários do sindicato por meio de um convênio firmado com farmácia e papelaria. De acordo com ele, as compras tinham cunho particular e depois de feitas eram pagas pelo sindicato e o valor correspondente descontado em folha: “eu quis honrar o nome da entidade e tem mais, esses valores já haviam sido descontados dos funcionários, não havia razão pra não pagar”, exclama.
Do outro lado, os sindicalistas que movem a ação para o afastamento de Silvânio, alegam que qualquer forma de uso do recurso do sindicato, precisa ser comunicada antecipadamente, o que segundo eles não aconteceu.
Apesar de terem usado as notas citadas para embasamento legal do pedido de afastamento do presidente, os diretores do Sintrexbem, incluindo o presidente interino João Edilson de Almeida, alegam que a saída de Silvânio está vinculada as suas atitudes “individualistas”, já que ele: “tomava atitudes sem comunicar o restante do grupo”, palavras de João Edilson, ao mencionar que o compartilhamento de informações é cláusula do estatuto do sindicato.
O presidente interino, João Edilson, descreve Silvânio como um radical inflexível, que inviabilizaria o diálogo entre os trabalhadores e as empresas. Em contrapartida, Silvânio alega que a defesa dos direitos do trabalhador precisa permanecer acima dos credos e vontades particulares.
O presidente afastado diz ainda que a comunicação com João Edilson sempre foi muito difícil: “primeiro porque ele fica na Sub-sede, em Posto da Mata (distrito de Nova Viçosa-BA) e mora em São Mateus-ES, depois porque ele esteve com casos de doença na família”. Apesar disso, e-mails eram enviados comunicando ações, convocações e demais atividades.
Quanto a acusação de uso irregular da verba ele diz: “ jamais quis o dinheiro do sindicato, pra provar, basta que se observe que eu peguei o caixa zerado, enfrentando cortes de energia e o deixei com cerca de R$ 80 mil de fundo”.
Pingos nos is
O descontentamento dos trabalhadores das terceirizadas com a decisão da justiça do trabalho fica comprovado com a coleta de assinaturas feita por eles. O abaixo-assinado de apoio a Silvânio e reconhecimento de idoneidade reuniu mais de mil assinaturas em menos de 48 horas. “Os trabalhadores não querem que eu saia, então eu pergunto: quem quer? ”, questionou Silvânio.
O trabalho desenvolvido por ele a frente da entidade, de 6 de Janeiro de 2009, até o dia 10 de Fevereiro de 2010 desagradou, principalmente as empresas de celulose, já que ele reuniu farta documentação para comprovar a disparidade entre o tratamento dado aos funcionários da empresa e os terceirizados.
Entre essas denúncias estão a de precariedade no transporte, alimentação em má- condição de acondicionamento e de qualidade e quantidade questionável, falta de EPIs e outros.
De acordo com o próprio Silvânio a comprovação do uso irregular dos terceirizados traria um prejuízo imenso, com valores na casa dos milhões para as empresas de celulose, mas garantiria salários, benefícios e direitos iguais para todos os trabalhadores da área florestal.
“Um ajudante de serviços florestais contratado da empresa de celulose ganha R$ 850,00. Um operador de trator, que é mão de obra especializada, nas empreiteiras recebe R$ 760,00. Nas empresas de celulose os trabalhadores têm plano de saúde, odontológico, cestas básicas no valor de R$ 140,00, cesta de Natal, bolsas escolares e nas empreiteiras, não” detalhou o sindicalista.
Por discordar da postura das empresas de celulose, o sindicalista declarou em recente evento realizado em Manaus/AM, sobre trabalho decente, ser contrário a emissão de certificações (FSC e SA 8000) para as empresas de celulose. Ele argumenta que tais certificados são legítimos em casos de cumprimentos integrais das legislações trabalhistas e de manejo. Os auditores/certificadores estavam presentes.
A ausência de tais certificações praticamente impede a penetração da celulose nos mercados europeu e norte-americano.
Silvânio ainda encabeça uma ‘Ação coletiva sobre substituto consensual de insalubridade’, que, em caso de vitória judicial, renderá para os trabalhadores (tanto das empresas, quanto das terceirizadas) mais de R$ 1 mi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário